domingo, 28 de agosto de 2011

A angústia na vida do Cristão



Por Cintya Machado


A angústia é um fenômeno difuso que faz parte da vida de todo ser humano; é uma experiência ligada às questões existenciais que se difere, por exemplo, dos sentimentos de medo e ansiedade. O termo “angústia” tem sua origem do latim angustus que, segundo Bueno (1968), significa estreito, apertado, afogar, sentimento de desconforto, apreensão ou ainda, tristeza e sofrimento moral.



De acordo com Mandruszka e Schotte (1979), citado por Giovanetti (2000), esse termo surge a partir de uma certa vivência corporal de ser no espaço, significando um estreitamento da vivência, de onde provém a expressão clássica de ‘aperto no peito’. É possível definir o que se sente, apesar de não ter clareza sobre o que provoca essa sensação. É possível também se localizar corporalmente a angústia: geralmente as pessoas se referem ao aperto no peito, não há registro de que alguém a tenha localizado em outra parte do corpo.

Este caráter de indefinição do objeto causador da angústia se apresenta como uma das principais características diferenciadoras entre os termos angústia e medo.

Kierkegaard (1972), afirma que no medo tem-se certa clareza de que é uma emoção que possui um objeto, isto é, sente-se medo de algo possível de ser definido, concreto, ao contrário da angústia onde não se tem clareza do objeto que a evoca.

Sendo assim, a partir do momento em que se descobre o objeto causa do medo, torna-se possível evitar ou mesmo enfrentar tal objeto e controlar essa sensação. Ao passo que, na angústia, a dificuldade em se ter clareza de seu objeto faz com que o ser permaneça em seu estado de angústia e tenha dificuldade de se livrar dela.

Já na diferenciação de angústia e ansiedade, Giovanetti (2000), citando Rojas (1977), diz que a angústia tem sempre manifestações somáticas mais marcadas, ao passo que a ansiedade se desenvolve em um nível fundamentalmente psicológico. Destacando que a angústia detém, se comparada à ansiedade, um caráter mais profundo do ser humano, enquanto que a ansiedade pode revelar dificuldades psicológicas de enfrentar determinados obstáculos.

Existem vários tipos de leitura acerca da angústia; a leitura psicológica ou nosológica, segundo Giovanetti (2000), reduz sua compreensão às manifestações clínicas e psicopatológicas atentando para os sintomas que a angústia apresenta, no intuito de encontrar uma cura para o sofrimento causado, através de métodos que controlem os sintomas, removendo a angústia; já a leitura ontológica considera a angústia enquanto um fenômeno que atinge todo ser enquanto perda do fundamento pessoal da existência e, conseqüentemente, do sentido da vida, compreendendo a angústia enquanto inerente ao ser e, como tal, não há o que se curar porque não há como remover a angústia do ser. Isto é possível de se entender na medida em que o ser humano tem dificuldade de responder a perguntas como: de onde vim, com que objetivo e para onde vou?

Como cristãos neste ponto temos tranqüilidade, pois sabemos de onde viemos (Gn 2.7), com o objetivo de ser fecundo, multiplicar, encher a terra e sujeitá-la, dominar sobre todo animal que rasteja sobre a terra (Gn 1.28), e também sabemos que iremos para junto dele e viveremos eternamente ali caso o tenhamos aceitado genuinamente como Senhor e Salvador de nossas vidas. Mas, apesar disso, muitos cristãos têm se angustiado pela inversão de valores que vivemos hoje mesmo dentro da igreja, pois valorizamos mais as coisas que as pessoas e buscamos socorro nos canais e não na fonte que é Deus.

Isto são coisas que nos fazem perder o foco e nos angustiar, pois esquecemos que temos um legislador que é justo e que qualquer petição levada até Ele será julgada justamente (Sl 19.9b). Devemos refletir sobre o que tem nos angustiado, pois, não raro, ouvimos crentes afirmando estarem deprimidos, desanimados, que esfriaram. Deus não mudou, não dormiu, não nos deu as costas o que nos afasta dele é nosso pecado. Lembremos do seguinte: “Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.” (Mt 12.32.)

Pensemos nisto, se na nossa angústia não temos feito aquilo que o Senhor disse não nos perdoará.

Escrito por: Lilian Pacheco - Psicóloga de Jovens

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